Às vezes, saber o que está dentro do pão é uma tarefa bastante difícil.
Secção de padaria de uma das maiores cadeias de retalho alimentar em Portugal, o Lidl.
Ao longo da produção da primeira temporada do Próprio para Consumo visitámos muitos super e hipermercados, não só na zona de Lisboa mas também noutras regiões do país. Queríamos perceber de que forma é disponibilizada ao consumidor a informação básica sobre o pão que é vendido nas lojas. Encontrámos de tudo, desde prateleiras com todos os dados e mais alguns até casos em que parecíamos estar dentro de um daqueles livros de “Onde Está o Wally?”.
Perguntámos às maiores cadeias de super e hipermercados se é prática generalizada não terem a lista de ingredientes bem visível e quais as razões para isso acontecer. Recebemos todo o tipo de respostas, o que de certa forma reflecte a diversidade de soluções a que recorrem para cumprir com a obrigação de disponibilizar ao consumidor a informação legalmente exigida sobre um produto.
Deixamos-te uma versão editada (para efeitos de clareza) de cada resposta que nos chegou.
ALDI
“Todos os nossos artigos de bake-off, disponíveis no expositor apropriado para o efeito, são acompanhados de uma etiqueta com informação sobre o nome do produto, os ingredientes e tabela nutricional, que se encontra visível no respetivo linear, junto ao preçário. […] Procuramos disponibilizá-las de forma simples, clara e o mais completa possível em todas as nossas lojas […] de modo a que os nossos clientes possam fazer escolhas informadas e a facilitar a sua experiência de compra.”
Auchan
“O pão adquirido ao balcão das nossas lojas contempla a lista completa de ingredientes disponível no talão do mesmo. Por outro lado, o atendimento ao balcão das nossas lojas pressupõe que o cliente possa obter toda e qualquer informação sobre os produtos comercializados, junto do colaborador que está no atendimento.”
Continente
“As lojas que têm balcão de atendimento não têm os ingredientes junto ao nome do produto mas nas lojas em que é o próprio cliente a servir-se, a lista de ingredientes está disponível junto ao produto. De acordo com o Decreto-Lei 26/2016, não é obrigatório ter disponível a lista de ingredientes em produtos de atendimento. Os consumidores têm acesso à lista de ingredientes caso a peçam ao colaborador ou na etiqueta do produto disponibilizada aquando da venda (etiqueta de balança).”
Lidl
“Desde 2021, todas as lojas Lidl passaram a ter a lista de ingredientes dos artigos de padaria e pastelaria numa localização única e uniforme, junto à área do pão a granel, completamente visível e acessível ao cliente […] Esta decisão procura garantir a eficiência do processo de atualização da lista de ingredientes destes artigos, com uma periodicidade mensal, e uma atualização e monitorização o mais célere possível da mesma.”
Pingo Doce
“O Pingo Doce está a trabalhar no sentido de disponibilizar informação relativa à lista de ingredientes dos produtos de padaria e pastelaria, que se encontram à venda nos móveis de livre-serviço. Apesar desta informação ainda não se encontrar visível junto aos respetivos produtos, o cliente pode sempre solicitar a lista de ingredientes aos colaboradores de loja. Nas lojas em que o pão é pesado na secção de padaria, a lista de ingredientes é incluída na etiqueta de preço.”
A verdade é que mesmo dentro do mesmo grupo encontrámos práticas distintas. Não raras vezes uma loja teria uma placa com a lista de ingredientes ao lado das prateleiras e noutra loja da mesma cadeia não haveria qualquer placa, por exemplo.
Para esclarecer a que é que o consumidor tem ou não direito, falámos com Dulce Ricardo, coordenadora da área de estudos de alimentação da DECO Proteste.
“A lei está a ser cumprida mas deveria haver uma uniformização”, começa por explicar. “Não há incumprimento legal, mas a própria lei é de difícil interpretação porque diz que a informação deve estar bem visível sem especificar como. É necessário completar a legislação”.
A falta de informação tem consequências. “O principal risco para os consumidores tem a ver com o risco de alergias alimentares. Mas há uma série de aditivos e se o consumidor não vir essa informação não sabe se são três, quatro… não faz uma escolha consciente”.
