Da próxima vez que estiveres quase a pedir uma tigela de açaí lembra-te deste texto. É uma história já conhecida, mas agora posta novamente a nu por uma reportagem do Washington Post (texto de Terrence McCoy e fotografia de Ana Mendes).
O açaí que hoje em dia chega a todo o mundo como superalimento que faz bem a tudo tem um lado negro de graves problemas socioeconómicos, em particular trabalho infantil com enormes riscos. Falamos de árvores que chegam aos 20 metros de altura e cujos troncos podem partir-se com o peso de um adulto. Por essa razão, muitos dos que trepam estas palmeiras (sem qualquer protecção) são crianças.
Nestas regiões não há família que não tenha histórias de acidentes, incluindo mortes, consequência natural do risco extremo. Além disso, a qualidade do fruto degrada-se muito rapidamente, fazendo com que estas famílias se vejam obrigadas a vender ao primeiro comprador que aparece, a um preço muito abaixo daquilo que seria justo e aceitável.
Esta é uma cadeia de fornecimento cheia de intermediários, sem rastreabilidade e com o nível de transparência de um pântano. O mais irónico é que o fruto nem sequer é doce (ao contrário daquilo em que a maioria acredita), tem uma semente que representa 60 a 80% do seu peso (a pele e a polpa são as únicas partes que acabam na tigela) e os seus alegados benefícios nutricionais continuam a não ter evidência científica suficientemente sólida.
Em Portugal, temos uma alternativa: o mirtilo. É mais saboroso, sustentável, pode ser comido por inteiro e não tem os perigos nem a exploração infantil associados ao açaí. Mas não te iludas: também por cá há problemas socioeconómicos associados a esta cultura – simplesmente são de outra natureza. Está na altura de lançar o hashtag #MaisMirtiloMenosAcai.
Alinhas?